História da cerveja no Brasil

Bora falar um pouco sobre a história da cerveja no Brasil?

Vamos perceber, ao longo do texto, que a história da cerveja aqui é bem recente se comparada a história da cerveja na Europa (quando ainda nem era Europa). Diferente das escolas cervejeiras clássicas (Alemã, Franco-belga e Britânica) que têm datas marcadas antes de Cristo. Só para termos ideia, enquanto nosso país estava sendo descoberto, lá do outro lado do mundo, já estavam descobrindo o lúpulo para conservação de suas cervejas. Um exemplo do quanto essa prática de beber cerveja é antiga na Europa é a cervejaria alemã Weihenstephan, a mais antiga do mundo ainda em funcionamento, foi aberta em 1.040. Sua cerveja começou a ser produzida antes ainda, em 800.

Para se ter uma ideia, há mais de 4.000 anos a.C., os babilônios já fabricavam mais de dezesseis
tipos de cerveja de cevada, trigo e mel.

Voltando para o Brasil, segundo historiadores, nos primeiros anos do século XVI (1.501 -1600), tribos indígenas, apreciavam o Cauim, um tipo de bebida fermentada à base de mandioca, milho e frutas, elaborada pelos próprios nativos. A massa da bebida era cozida, MASTIGADA (cuspida) e recozida para a fermentação, de forma que enzimas presentes na saliva quebrassem o amido em açúcares fermentáveis. É estranho, mas era assim mesmo!

Nassau - Colorado

Já na colonização do país, as primeiras cervejarias no Brasil começam com a chegada de Mauricio de Nassau e a tropa holandesa ao Recife, em 1637. Junto deles, veio o cervejeiro Dirck Dicx com uma planta e todos os componentes necessários para montar uma cervejaria. A ideia era montar a primeira cervejaria do Brasil.

Onde era domínio dos portugueses, a cerveja não chegava, pois eles temiam perder as vendas dos vinhos. Com isso, havia contrabando de cerveja nos portos do Rio de Janeiro, de Salvador e de Recife. Êêê Brasil!

Dom Pedro

Quando os holandeses saíram do Brasil, em 1654, levaram a cerveja e tudo que tinha na cervejaria. O produto sumiu do Brasil por 150 anos. Enquanto isso, era consumida apenas cervejas feitas em casa de forma artesanal.  A comercialização de cerveja só voltou com a fuga da Família Real portuguesa para o Brasil, em 1808. Dom João consumia muito a bebida. Com isso, até 1814, mandou abrir os portos, exclusivamente, para a importações da Inglaterra. Assim, os primeiros estilos de cerveja a chegarem no Brasil foram ingleses, ou seja, as Ales (veja o post sobre a Escola Britânica).

A partir da metade do século XIX, a fabricação de cerveja brasileira começa a tomar vulto com o aparecimento de diversas fábricas. As primeiras fábricas produziam cerveja sem marca e geralmente vendiam, em barris. No final do século, quando a importação voltou a crescer, a preferência passou a ser pela cerveja alemã, que era mais leve e vinha em garrafas e em caixas, ao contrário das Brahmainglesas (em barris).

Com a quadriplicação dos impostos, parou-se com as importações no início do século XX. Com isso, em 1904, a produção nacional ganha força e domina o mercado, dando origem às grandes cervejarias e com produção quase exclusiva do estilo Standard Lager (as cervejas de massa que são vendidas hoje – tipo Pilsen).

Em 1994, surgiram as microcervejarias que produziam pequenas quantidades para consumo local, influenciadas pelo movimento Craft Beer dos EUA, com a proposta de cervejas saborosas e com personalidade. Sobre as cervejas artesanais aqui no Brasil, falarei no próximo post.

A cerveja virou paixão nacional e , hoje, o Brasil é o terceiro maior produtor de cerveja do mundo, produzindo, em 2020, de acordo com a Barth Haas, 151,9 milhões de hectolitros, ficando atrás somente da China e dos Estados Unidos.

Curiosidades sobre a cerveja no Brasil

– As cervejas fabricadas nacionalmente ficaram conhecidas como “marca barbante”. A origem da expressão está no fato que os produtores usavam barbantes para prender as rolhas das garrafas. Deste modo, se a pressão de CO² interna estivesse muito alta, a rolha não era expulsa.cerveja barbante

– Em 1853, o alemão Heinrich Kremer fundou a Cervejaria Bohemia, na região de Petrópolis (RJ). Não foi a primeira cervejaria no Brasil, mas é considerada a cervejaria em atividade continua mais antiga do país;

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– O empresário Joaquim Salles possuía um abatedouro de porcos com uma fábrica de gelo, na época ociosa. O alemão, Luis Bucher, tinha uma pequena cervejaria em 1868 e despertou o interesse pela fábrica de gelo. Em 1888, surgia na associação entre os dois a Cervejaria Antarctica, sendo a primeira cervejaria a produzir Lager e a primeira a ter rótulo em todas as garrafas.

Também em 1888, o engenheiro suiço, Joseph Villiger, fundou sua própria cervejaria chamada de Manufatura de cerveja Brahma Villiger e Companhia, com 32 funcionários e uma produção de 300 mil litros/mês. Sendo então comercialmente lançada a Cerveja Brahma. Desde então a Brahma não parou de crescer. Em 1904, surgiu a Companhia Cervejeira Brahma que era uma fusão da Villiger Brahma com a cervejaria Teutônia, na cidade de Mendes (RJ).

–  No início do século XX, a produção de cerveja entra em declínio no país, já que a matéria-prima vinha do Velho Mundo, que passava por um período de guerras. Mas, em 1966, a produção é retomada e surge a Cerpa. Em 1967 surge a Skol. Skol primeira cerveja em lata do Brasil

– Em 1971, a Skol lança a primeira cerveja em lata do Brasil. Ela era feita em folha de flandres.

– Em 1980, surge a Cervejaria Kaiser, em Divinópolis/Minas Gerais, e em 1989 a Primo Skincariol passa a produzir cerveja no interior de São Paulo.

– Em 1993, um grupo de empresários se associou e decidiu comprar algumas máquinas, equipamentos e um terreno perto da rodovia Br 040 – Km 51. Assim, surgi a Cervejaria Petrópolis. Em 1994, é lançada a Cerveja Itaipava. A marca também inovou ao adotar, em 2002, o selo higiênico, uma folha fina de alumínio que cobria a parte superior da lata e que tinha que ser retirada para permitir a abertura da mesma, proporcionando ao consumidor higiene e segurança contra impurezas e micro-resíduos.

– Em 1999, a partir da fusão Companhia Antarctica Paulista e a Companhia Cervejaria Brahma, surge a Ambev – Companhia de Bebidas das Américas. A criação da AMBEV e sua posterior fusão a gigante belga Interbrew foram dois dos fatos mais marcantes da história da cerveja brasileira e mundial das últimas décadas. Com o nome de Inbev, a nova empresa mundial, a partir de 2004, tornou-se a maior produtora do mundo.

– Eisenbahn/Cervejaria Sudbrack –  Criada em 2002, surgiu devido ao descontentamento de alguns empresários do setor pela forma como estava evoluindo o mercado de cervejas do país. Surgia apenas cervejas do tipo pilsen, esquecendo-se os outros tipos tradicionais de cerveja originários da Europa. Apostando num experiente mestre cervejeiro e seguindo a Reinheitsgebot, a Lei Alemã da Pureza, criaram a Eisenbahn que, em um determinado período tinha diversos estilos como: Dunkel, Kölsch, Pale Ale, Pilsen, Pilsen Orgânica, Weihnachts Ale, Weizenbier, Weizenbock, Rauchbier, Bierlikor. Porém, hoje em dia, eles reduziram esse portfólio, podendo ser encontrada apenas a Pilsen, Pale Ale, Weizenbier e American IPA.

– Hoje, no Brasil, o setor cervejeiro está perto de atingir a meta lixo zero em seus processos produtivos. Os maiores fabricantes já registram índice de pelo menos 90% na reciclagem dos resíduos gerados pela produção.

De acordo com uma pesquisa feita pela Euromonitor, em 2020, as cervejas mais vendidas para os consumidores brasileiros são as nacionais: 1 – Brahma: 21,9%; 2 – Skol: 21,5%; 3 – Antarctica: 10,5%; 4 – Itaipava: 8,4% e 5 – Nova Schin: 6,8%

Fontes: brejada.com/brejapedia/estudos/cervejas-especiais-nacionais/
http://www.cervejasdomundo.com/Brasil4.htm
http://cervejasecervejariasnomundo.blogspot.com/2016/05/a-historia-da-cerveja-no-brasil.html

Hofbrauhaus: Visita à fábrica de BH

Apesar de o bar/restaurante da Hofbrauhaus BH já ter aparecido por aqui nas dicas de Onde Beber Artesanal, hoje, darei como dica a visita à fábrica da HB.

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É uma experiência única em BH já que, além de aprender todo o processo produtivo e toda tecnologia envolvida na preparação de algumas das melhores cervejas do mundo, que é exatamente igual à da matriz, em Munique, você ainda tem o prazer de experimentar pratos típicos alemães.

Tem uma visita por sábado. E os sábados são definidos pela cervejaria, que recebe o agendamento pelo seu no site.

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A visita começa com um dos sócios da casa, Henrique, contando um pouco da história e curiosidades da cerveja, que é produzida desde 1589, em Munique. Além disso, ele conta como foi o trâmite para trazer a marca para Belo Horizonte, sendo a única filial da América Latina.

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Enquanto ele conta, é servido alguns dos principais pratos da casa, super alemães: o Pretzel, que nem precisa falar que eu amo.

Que é um pão típico bávaro, inclusive vem de Muniquepara BH; e a Salsicha tipo Bratwurst  ou Vitela (não sei) servida com 3 mostardas típicas também. Tudo muito saboroso, fazendo você se sentir na HB original.comida alema

Depois do reforço no estômago, partimos para conhecer a produção. Na parte externa, a gente vê os tanques de fermentação que dão um charme à parte e os outros equipamentos que fazem parte da produção dos quatro estilos de cervejas disponíveis na casa: três fixos (lager, weizen e dunkel) e um sazonal, que muda a cada mês.

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A Lager é uma Premium Lager tradicional alemã com equilíbrio e refrescância; A Hefe Weizen é a cerveja de trigo, bem marcante, com o aroma e sabor frutados; a Dunkel, é uma lager escura com combinação de sabores tostados e tons de caramelo. Para mim, a melhor!; e a sazonal era a Pils com caráter maltado levemente adocicado em equilíbrio com o amargor dos lúpulos alemães, de toques florais e herbais. Final seco e refrescante.

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Os ingredientes para fazê-las são 100% importados e a água passa por um processo de beneficiamento para que se iguale à água utilizada na fábrica de Munique. Isso faz com que a cerveja produzida no Brasil seja idêntica a produzida na Alemanha. Os padrões de produção são bem rigorosos. Ou seja, você toma a mesmíssima cerveja que tomam em Munique, Berlim…

A casa é um BrewPub, já que a fábrica é ligada ao restaurante e as cervejas servidas são frescas, saindo diretamente dos tanques.

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Depois de algumas explicações e dúvidas sanadas, chegou a melhor parte: a degustação das cervejas da casa.

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Nem precisa de falar o quanto todas são maravilhosas. Depois de degustar a régua, você pode escolher a sua preferida, eu escolhi a Dunkel, para você mesmo retirá-la na biqueira.

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A gente aprende a tirar cerveja do Gruber, um sistema austríaco de dosagem para servir as bebidas. Nele, o desperdício é zero, o que acontece muito nas cervejarias com chopeiras. Depois que a medida certa é servida, a máquina trava, sai a espuma na risca certa e não cai uma gota para fora do copo. Interessante, né?

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Depois disso, é só sentar, apreciar essa beleza de chope e bater aquele papo gostoso com a galera do tour.

Adorei essa experiência! Prosit!!

Hofbräuhaus Belo Horizonte
Av. do Contorno, 7613 – Lourdes
Belo Horizonte- MG
http://www.hofbraubh.com.br
Instagram: @hofbrauhausbh

Sobre estilos: IPA

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Então, hoje, vamos falar da queridinha de muitos e que tomou conta do gosto e dos eventos cervejeiros? Sim, estou falando dela: A IPA. Os lupulomaníacos até choram!

Primeiro, vou começar com a história dela, que alguns dizem não ser verídica, mas… Eu não estava aqui pra ver, vamos ao que nos contaram.

Segundo historiadores, lá no século XVIII, quando os ingleses colonizaram a Índia, haviam oficiais britânicos que moravam na Índia. Naquela época, o calor era muito bravo e a água potável era bem escassa. Para resolver esse problema, os ingleses começaram a levar cervejas da Inglaterra para a Índia. Como o caminho era longo e as cervejarias não usavam conservantes artificiais, assim, as cervejas estragavam.

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O que eles pensaram? “Vamos colocar uma dose extra de lúpulo, que é um conservante natural (já falei sobre ele aqui), assim a cerveja resistirá alguns meses de viagem.”. Assim, eles passaram a colocar na tradicional Pale Ale (que também já falei aqui) uma quantidade maior de lúpulo. Com isso, a cerveja que era Pale Ale mudou sua característica, ficando com o aroma mais definido e fresco, mais amarga e com o teor alcoólico mais alto. Para diferenciá-la da outra, passaram a chamá-la de Índia Pale Ale, a famosa IPA.

Principais características

lúpulo-640x340O amargor marcante é sua principal característica. Nela, os maltes ficam bem discretos, mas têm aqui a função de contrabalancear com o lúpulo para a cerveja não ficar super amarga. Mas o lúpulo não vai dar somente o amargor, ele dita o aroma também. Uma boa IPA tem que ser arromática. Algumas, só de abrir a garrafa, já vem aquele aroma gostoso. Os mais encontrados são os cítricos. São cervejas super refrescantes.

Sua cor deve ser de dourado a acobreado. Apresentam um teor alcoólico que normalmente vai de 5,5 a 7,5%.

Seu IBU padrão vai de 40 a 70. Já uma Imperial IPA pode ir até 120. Vamos falar então desses sub estilos?

Alguns sub estilos de IPA: 

downloadAmerican IPA:  Tem um amargor acentuado como a IPA, porém, devido aos lúpulos americanos usados, ela tem aromas mais cítricos. Tem um pouco de dulçor, enquanto a “somente IPA” tem o final seco.

English IPA: Tem uma característica de malte mais acentuado que a versão americana e um aroma de lúpulo mais discreto. Tem notas terrosas e herbais dos lúpulos ingleses. É mais balanceada que os outros estilos.

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Black IPA: são chamadas assim pela utilização de maltes tostados. Costumam ser robustas, com notas de café, chocolate, caramelo, além do amargor comum a qualquer IPA.

Imperial IPA/Double IPA: É a versão mais hard da IPA. O amargor é ainda mais acentuado, com doses exageradas de lúpulo e teor alcoólico elevado. Com isso é preciso usar mais maltes também, mas sem equilibrar demais. Muito muito amarga, definitivamente, não é minha praia.

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Session IPA: Diferente da Imperial essa é uma IPA com baixo teor alcoólico sem perder as características lupuladas. É aromática, menos amarga e com leve teor de álcool. Dá para tomar muitas. Esse é o outro sub estilo fácil de tomar.

NEIPA Haze
New England IPA /Juicy IPA: Têm aparência turva (a cor lembra de um suco de manga), contém trigo, centeio ou aveia na composição. São mais encorpada e aveludada, bastante frutada, lembrando frutas amarelas e tropicais. Tem uma quantia significativa de lúpulo e malte não caramelizado. Seu amargor é curto.