Vamos para mais uma cultura cervejeira nossa que deve ser revista?
Hoje, falarei sobre algo que escutamos desde cedo, principalmente nas propagandas de cerveja: “Cerveja tem que ser estupidamente gelada.”.
A primeira coisa que temos que saber é que a cerveja estupidamente gelada não é de jeito nenhum a temperatura ideal para as cervejas especiais. Pois, nossas papilas gustativas, quando extremamente resfriadas, sofrem uma espécie de anestesia, fazendo com que pouco se sinta os gostos e diferencie sensações no paladar. Então, quanto mais gelada, menos sentimos seu sabor. Ou seja, os valores negativos, não devem ser usados de jeito nenhum. Já que fazem perder todo sabor e até mesmo o aroma da cerveja.
Portanto, se você quer sentir melhor os sabores e aromas da cerveja que você vai tomar, é bom você ficar atento à temperatura dela.
Cada estilo de cerveja tem o resfriamento adequado para que suas características não sejam perdidas (veja aqui sobre estilos). Por isso, ao tomar uma cerveja com a sua temperatura ideal, você perceberá que seu sabor irá ficar mais realçado e você terá uma melhor experiência n ahora da degustação.
Alguns rótulos já vêm indicando a temperatura ideal para aquela cerveja. Portanto, tente respeitar essa indicação.
Então, aí vão algumas faixas de temperaturas e quais os estilos ideias:
2°C a 4°C – São consideradas temperaturas muito geladas, mas não extremas. Ideais para cervejas mais refrescantes como as Pilsner, Witbier, Helles, Kölsh e cervejas sem álcool.
5° C a 7°C – São consideradas bem geladas. Recomendadas para as cervejas mais alcoólicas e complexas, geralmente mais amargas ou com o ABV acima de 6%, como as IPA , Stout, Bock, Weiss e Tripel.
8°C a 12°C – São consideradas geladas. Ideais para as Lagers escuras, Pale Ale, Amber Ale.
12°C a 16°C – Consideradas “temperatura ambiente”. Ideias para cervejas do tipo Ale, mais alcoólicas e licorosa como as Russian Imperial Stout, a maioria das Belgas (incluindo as, Stong Ale, Trapistas, Quadrupel) e as Bocks mais fortes como Eisbock e a Doppelbock.
Em alguns casos, as cervejeiras/geladeiras não aumentam tanto a temperatura. Quando é assim, se a temperatura ideal for mais elevada, recomendo tirar da geladeira antes e esperar um pouco para que ela chegue na temperatura ideal, assim você possa servir. Te garanto que faz toda a diferença.
Agora, se a cerveja for essas industrializadas como Skol, Brhama, Original, Itaipava, pode tomar extremamente gelada, pois o intuito delas não é de proporcionar diferentes sensações, mas apenas refrescar.
Não é fácil controlar a temperatura exata da cerveja. Mas é bom saber que as menos alcoólicas são ideais mais geladas e as mais alcoólicas e complexas, menos geladas.
Em relação àqueles copos/canecas congelados, se for para beber cervejas especiais, fuja deles! Pois, além de tirar o sabor e aromas da cerveja, eles a deixa aguada. Na caneca congelada encontramos partículas de gelo que, em contato com o líquido, se transforma em água. Aí complica, né?!
Agora, se for para beber cerveja comum, manda brasa!
Mas será que tem diferença tomar determinado estilo de cerveja em um copo específico?
É sobre a importância do copo durante a degustação das cervejas que vou falar hoje.
Muitos acham que é bobagem, frescura etc. Mas a verdade é que o copo que você escolhe para tomar sua cerveja vai influenciar na experiência degustativa que você terá.
Cada estilo de cerveja tem determinadas características específicas. E para que possamos sentir tudo aquilo que cada estilo tem a oferecer, existem diferentes formatos de copos.
O principal fator que define o desenho de cada copo é o aroma. Utilizando o copo com o formato adequado, é possível sentir todo o aroma que aquele estilo oferece. Copos com a boca mais estreitas, como os cilíndricos, concentram os aromas da cerveja em uma área de percepção pequena e por este motivo são indicados para cervejas com aromas suaves como as Pilsen. Copos com a boca mais aberta como cálices, propiciam uma expansão dos aromas, ideal para cervejas aromáticas como as Weiss e Stouts.
Eu sou “cheiradora” de copo mesmo. Adoro sentir aqueles perfumes e sensações que as cervejas nos proporcionam! Uma cerveja que traz aromas que gostamos, no meu caso café, chocolate, ficam até mais prazerosas de tomar.
Além do aroma, outras características dos estilos são realçadas pelo formato do copo, como:
O sabor: O desenho do copo influencia diretamente no sabor da cerveja. A velocidade com que a cerveja atinge a boca quando vem de copos mais retos é maior. Isso, faz com que a cerveja vá diretamente para a parte de trás da língua onde possui maior concentração de receptores de gosto amargo, esse fato faz com que a sensação do gosto amargo dessas cervejas seja intensificada.
Copos com bases mais largas, como os de vinho tinto, entregam a cerveja à boca de forma mais lenta, fazendo com que toda a língua seja envolvida pela cerveja, e que todos os gostos sejam percebidos da mesma forma. Isso faz com que a cerveja seja bebida mais lentamente. Ideal para as cervejas mais fortes como Strong Ale.
A espuma: O formato do copo contribui para uma espuma em maior quantidade ou para conservar o gás por mais tempo.
Os copos em formato de cone, por exemplo, dão suporte à espuma e fazem com que ela permanece por mais tempo no copo.
Outra característica dos copos que podem influenciar na experiência degustativa é a haste. Copos com hastes, como as taças, ajudam a preservar a temperatura da cerveja, já que evitam a troca de calor com as mãos.
Enfim, são alguns detalhes que devem ser observados para se ter uma experiência boa ao beber seu estilo preferido. Mas, se não tem o copo certo para tomar aquela cerveja especial, não se acanhe, pegue o que tiver e seja feliz! Bora beber com qualidade. Isso que importa.
Neste post sobre copos (clique aqui), falei sobre os copos ideias para cada estilo.
– A limpeza do copo também é fundamental para uma boa degustação da cerveja. Resíduos de sabão, poeira e gordura podem prejudicar a formação da espuma, além de contribuir para que surjam aromas e sabores indesejados.
– Deixe o copo secar naturalmente, sem contato com panos. E caso utilize lava louças, certifique-se de que os copos estão em temperatura ambiente para receber a cerveja.
– Alguns estilos têm copos desenhados somente para ele, como é o caso das weissbier e wit.
– Na Bélgica, cada cerveja tem o seu copo próprio. E olha que lá possui mais de 450 cervejas diferentes. Haja prateleira. A cada cerveja servida o copo é trocado. Como recebem muitos turistas cervejeiros, os bares começaram a ter problemas com furtos dos copos. Alguns passaram a ter alarmes nos copos. Um bar adotou um método inusitado. Ao entrar, você tem que deixar o seu sapato na porta, como uma espécie de “resgate”. Que coisa, hein?!
Você sabia que falar de gosto não é a mesma coisa que falar de sabor?
O quê???
Sim. Gosto é diferente de sabor.
Eu falo isso porque a gente vê algumas resenhas e opiniões sobre cervejas falando de gosto ou sabor sem distinção, como se fossem a mesma coisa (eu mesma fazia isso e ainda tenho dificuldade em falar o correto na hora certa).
Então vamos lá!
Gostos existem apenas cinco: doce, salgado, azedo, amargo e umami (difundido na cozinha oriental, encontrado também no tomate), que podem ser identificados pelo sentido do paladar, ou seja, a responsável por senti-lo é a língua. Gosto é exatamente aquilo que sentimos quando a bebida/comida entra na boca.
Já o sabor é uma mistura de sensações mais complexa, pois envolve mais de um sentido. Para sentir o sabor é necessária a combinação do gosto (paladar) com o aroma (olfato) de um alimento. O sabor já começa quando sentimos o cheiro. 80% do sabor depende do seu nariz. Por isso, quando você está gripado, não consegue saborear nada com prazer.
Alguns especialistas ainda completam dizendo que, além do aroma e do gosto, faz parte do sabor, também, a sensação, que seria o tato. A textura pode modificar a forma de sentirmos o sabor.
Portanto, o sabor é a interpretação que nosso cérebro faz de todas essas sensações ao mesmo tempo.
Exemplos de sabores da cerveja: Frutado (frutas vermelhas, frutas escuras, frutas tropicais), Caramelo, Chocolate, Toffe, Pão, Mel, Ervas, Limão, Capim e por aí vai…
Para fazer um teste simples para entender as diferenças entre sabor e gosto, especialistas indicam fazer o seguinte:
– Pegue uma bala de hortelã / Tampe o nariz / Coloque a bala na boca e permaneça com o nariz tampado.
Quando a bala é colocada na boca com o nariz tampado, é possível sentir apenas o gosto doce.
– Após alguns segundos destampe o nariz
Quando o nariz é destampado, além do gosto doce, é possível sentir o sabor da bala, neste caso de hortelã, através da interação entre o paladar e o olfato.
Então é isso, minha gente.
Gosto é gosto, sabor é sabor, aroma é aroma, textura é textura.
Não vai esquecer disso da próxima vez que for falar sobre alguma cerveja que esteja tomando, hein?!
A gente sempre escuta muitas informações sobre a cerveja artesanal e fica na dúvida se é verdade ou se é mito.
Vamos desvendá-los?
– A cerveja tem uma Deusa da mitologia: Verdade
Ninkasi é o nome da Deusa da Cerveja da Mitologia Suméria. Diz-se que ela fornece ao mundo o segredo para fazer cerveja. Na cultura sumeriana, ela também é conhecida por seu poder para satisfazer o desejo humano e saciar o coração. Além disso, ela é a Deusa do álcool e responsável pela “água espumante”. Ninkasi produzia a própria cerveja e a consumia diariamente. Esta história é de 10.000 a.C.
– A validade da cerveja artesanal normalmente é maior que a indicada no rótulo: Verdade
As obrigações sanitárias no Brasil não permitem uma flexibilização em relação às validades nas cervejas artesanais. Depende muito do tipo de cerveja, da concentração de malte e da graduação alcoólica. Normalmente uma cerveja artesanal dura mais do que sua validade e mesmo assim a deterioração é gradativa e não de um dia para o outro. Porém, algumas ficam melhores depois da validade, outras, piores. Tudo depende do estilo, da forma como foi produzida e como foi armazenada.
– Não existe copo específico para tomar cerveja: Mito
Para que os diferentes sabores e aromas da cerveja sejam ressaltados, cada estilo de cerveja pede um tipo de copo adequado. A Pilsen, por exemplo, pode ser apreciada em uma tulipa, por ter um formato fino em sua base e mais largo na boca, mantém a espuma constante e faz com que o aroma do lúpulo seja melhor sentido. Já a Weissbier, cerveja de trigo, será melhor apreciada em um copo Weizen. Esse tipo de copo é alto, possibilitando colocar todo o líquido da garrafa, incluindo o resto de levedura que fica depositada no fundo. Veja o post sobre “Tipos de copos”.
– A espuma tem uma função específica na cerveja: Verdade
A espuma protege a bebida da oxidação, ou seja, impede que ela entre em contato direto com o oxigênio e oxide. Além disso, ela mantém o sabor, o amargor que está presente na cerveja e mantém a temperatura da bebida no copo. O ideal são dois dedos de espuma. Portanto, sem essa de pedir ou servir cerveja sem colarinho! Veja este post sobre “A espuma e sua importância para a cerveja”.
– Cerveja artesanal é sempre amarga: Mito
Existem centenas de estilos de cerveja artesanal, alguns com o amargor quase que imperceptível outros com o amargor muito alto. Algumas são bem adocicadas, outras bem equilibradas que não sente nem o amargor e nem o dulçor em destaque. Então, não é verdade que todas as cervejas artesanais são amargas. Veja esta página que fiz dedicada somente aos estilos.
– O Lúpulo (ingrediente natural que dá o amargor à cerveja) é um poderoso conservante natural: Verdade
A função do lúpulo vai muito além de conferir o amargor e aroma característicos de uma cerveja. Além dessas características dele que já sabemos, ele também tem a função de conservante natural da bebida, ajudando a prolongar a vida de prateleira da cerveja. Além disso, ele pode ser utilizado na culinária e na cosmetologia para clarear a pele e prevenir manchas e inflamações do tecido dérmico. Veja este post sobre “O lúpulo na cerveja”.
– Cerveja engorda: Mito
A cerveja tem menos calorias do que a maioria das bebidas alcoólicas. Por exemplo, a cachaça, a vodca e o vinho são bem mais calóricos que a cerveja, pois, a caloria está presente no álcool. Portanto, quanto menor o teor alcoólico, menos caloria a bebida vai ter. O que engorda é beber de forma exagerada e optar por petiscos mais gordurosos. Se quer manter a dieta, beba com moderação e opte pelas cervejas menos alcoólicas.
– Existe diferença entre armazenar cerveja em lata ou garrafa translúcida, verde ou marrom: Verdade
O recipiente em que a bebida é guardada e a cor dele interfere no sabor, no aroma e na durabilidade de uma cerveja. Por exemplo, quanto mais clara for uma garrafa (garrafa transparente), maior é a exposição do líquido aos raios solares. Com isso, maior será o impacto negativo nos aromas e sabores da cerveja e menor será sua durabilidade. Na garrafa marrom, esse impacto é menor. Porém, o recipiente ideal para armazenar a cerveja é a lata. Nela não entra raio solar nenhum, isso faz com que o líquido se mantenha intacto. Por isso, algumas vezes, é possível sentir diferença em uma mesma cerveja na lata ou na garrafa. Veja o post sobre “O recipiente pode influenciar no aroma e sabor da cerveja”.
– Cerveja e saúde não combinam: Mito
Os ingredientes que compõe a cerveja (água, malte e lúpulo) são todos naturais e cada um traz um benefício para saúde. Se o consumo da bebida for moderado e responsável, é possível obter os benefícios do consumo da cerveja. Um exemplo são os polifenóis, compostos orgânicos presentes na cerveja, que desempenham importante função antioxidante no organismo. Veja esse post que falo sobre “Os benefícios da cerveja para a saúde”.
– Ingredientes naturais da cerveja têm potencialidades que merecem ser exploradas: Verdade
Os ingredientes naturais da cerveja fazem bem à saúde dentro e fora da garrafa. A cevada, por exemplo, é considerada pelos especialistas como um ‘superalimento’, ou seja, um alimento bastante completo, nutricionalmente muito rico e que pode ser ‘coringa’ em qualquer dieta balanceada. O grão pode ser consumido em substituição ao arroz, à farinha de trigo e na preparação de saladas, risotos e até chá.
– Há diferença nos ingredientes do chope e da cerveja de garrafa: Mito
Os insumos utilizados na fabricação do chope e da cerveja são os mesmos. Portanto, não há diferença. Por exemplo, o chope Pilsen de uma marca X, que está dentro do barril, tem os mesmos ingredientes da cerveja Pilsen dessa mesma marca que está na garrafa. O que difere é que temos o costume de chamar de chope o líquido colocado dentro do barril que não passou pelo processo de pasteurização. Por ele não ser pasteurizado, acaba ficando mais fresco, com sabores e aromas mais presentes e com um prazo de validade menor. Além disso, a forma como o chope é retirado das torneiras fazem com que ele receba oxigênio tornando-o mais cremoso. Leia o post Chope x Cerveja
– A cerveja deve ser sempre servida muito gelada: Mito
Cervejas muito geladas tendem a diminuir a percepção do sabor e da complexidade das cervejas. Isso significa que, ao beber a cerveja trincando, como costumamos falar, poderá perder parte da experiência que determinadas cervejas podem proporcionar. Cada estilo de cerveja tem uma temperatura ideal para ser servida.
Em caso de dúvida há uma regra básica que pode seguir: quanto mais escura, menos fria. Não é uma regra perfeita e para a qual existem muitas exceções, mas há boas possibilidades de acertar se a seguir. As cervejas mais escuras muitas vezes são mais complexas e a temperatura a menos fria realça esses sabores. As mais claras, especialmente as de menor grau alcoólico, tendem a ser menos complexas e mais refrescantes, por isso poderão ser tomadas em temperaturas mais baixas. Mas, como já disse, em se tratando de cerveja, não é uma regra. Veja este post sobre “Como armazenar a cerveja artesanal“.
Falando em cervejas escuras, elas têm bastante mitos e verdades. Vai aí um bloco inteiro sobre elas:
– Toda cerveja escura é muito alcoólica: Mito
O responsável pela cor da cerveja é o malte. No processo de malteação, os cereais são germinados e o procedimento é interrompido no momento ideal por diferentes maneiras de secagem, como tosta, torrefação e defumagem. De acordo com esse processo as cervejas ganham cores e sabores diferentes. Portanto, a cor da cerveja não tem ligação com seu teor alcoólico. Um exemplo é a Dry Stout, que é uma cerveja bem escura, porém com o teor alcoólico entre 4% e 5%. Veja este post sobre “Como é colocado o álcool na cerveja“.
– Cerveja escura é sempre doce: Mito
A coloração escura de uma cerveja definitivamente não é um indicador de dulçor. A Guinness, cerveja escura mais famosa do mundo, não é nada doce. Existem, sim, cervejas escuras doces, mas não é uma regra. Mas, sim, é a maioria.
Cervejas escuras são muito encorpadas: Mito
Mais uma vez, a cor da cerveja nada tem a ver com corpo. Existem cervejas claras encorpadas, escuras leves, claras leves e escuras encorpadas.
O corpo não é definido pela cor do malte, mas sim pela quantidade. A grosso modo, quanto mais malte for utilizado em sua receita, mais a cerveja será encorpada. Veja aqui o post “O malte e sua múltipla função“.
– Cervejas escuras não podem ser refrescantes: Mito
Apesar da maioria das cervejas escuras serem menos refrescantes, existem sim relevantes exceções. Exemplo são as Schwazbier e as American Brown Ale são bem refrescantes!
Acho que com esses mitos desvendados e as verdades confirmadas deu para aprender um pouco mais sobre a cerveja artesanal, né?!
Aproveite esses links que coloquei em cada tópica para aprender mais ainda.