Garrafa x Lata: O recipiente influencia na cerveja

Afinal, a cerveja é melhor quando está na garrafa ou na lata?

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Sempre existe essa discussão entre os cervejeiros. Há quem prefira as cervejas que vêm em lata, há quem prefira as de garrafa e há quem não veja diferença entre os líquidos das embalagens.

A verdade é que as diferenças entre os dois recipientes são quase imperceptíveis aos paladares dos mais leigos. Porém, mesmo que o conteúdo de ambas as embalagens seja o mesmo mesma, existem alguns fatores que podem influenciar no sabor e aroma da bebida. O que acaba deixando elas diferentes.

Quais são essas influências?

Fator luz: A luz externa (raios UV, luz solar ou luz artificial) que entra em contato com o recipiente tem a capacidade de quebrar certas moléculas do lúpulo, fazendo com que cause um defeito no líquido, alterando o aroma da bebida. Quando essa luz entra em contato com a lata ela não consegue entrar e atingir o líquido. O alumínio bloqueia 100% a entra de de luz externa. Já as garrafas não protegem tanto.

As garrafas da cor âmbar (marrom) protegem mais o líquido do que as garrafas verdes e as transparentes. Por isso, e por ser mais barata também, as cervejarias optam por usar as garrafas marrons.

Garrafa verde de cerveja com gotas em brancoJá as garrafas de cor verde ou transparente quase não oferecem proteção contra luz ultra-violeta, portanto fazem com que a cerveja sofra mais com essa “contaminação por luz”, que é o que acontece na Heineken, por exemplo. Sabe quando você fala “cheiro ou gosto de Heineken”?, você está sentindo o cheiro ou o gosto dessa “contaminação” (que não faz mal). O consumidor já está tão acostumado com a presença desse aroma que virou um atributo sensorial dessas cervejas, uma característica marcante. Tanto, que algumas cervejarias nacionais estão adotando a garrafa verde em algumas cervejas. Mas, isso, é considerado um defeito da cerveja, conhecido como light-srtuck. Mesmo sendo um defeito, ele é aceito de forma moderada nas Premium American Lager. Outros exemplos é a Stella Arotis, Beck’s, Spaten.

Garrafas da cor âmbar filtram muito mais o espectro UV. Mas, pode ser que você não sinta essa contaminação nas garrafas verdes ou transparentes, pois algumas cervejarias usam lúpulos específicos para evitar essa alteração no aroma e sabor.

Fator Oxigênio:  A vedação da lata é tão perfeita, que a probabilidade do líquido oxidar em uma lata é quase nula. Já na garrafa, se a tampa não estiver bem vedada, permitem que o oxigênio passe para a bebida, levando a sua oxidação mais rápida.

Fator material: Uma vantagem da garrafa é que o vidro não tem sabor, ou seja, ele não interage com o líquido que está engarrafado. Apesar de que, falam que as latas de hoje são revestidas com um polímero a base de água, e portanto não há contato do metal com o líquido envasado.

Mini keg 5 litros sem Torneira - Prata - Valbier Brewshop e Escola.

Porém, segundo mestres-cervejeiros, nem todas as latas protegem totalmente o líquido de alguma alteração. Podemos notar uma diferença nas latas de 5 litros – mais conhecidas como Mini Keg – as quais utilizam ligas de ferro em sua composição e podem deixar a cerveja com sabor metálico ou oxidado.

Outro fator que pode ser um diferencial entre a garrafa e a lata é que como as garrafas de vidro têm maior resistência à pressão, e como o material que veda as tampas das garrafas é mais permeável aos gases, as garrafas acabam recebendo mais CO₂ durante o envase. Isso garante que a garrafa mantenha a sua carbonatação ao longo do prazo de validade.

E as garrafas de plástico como o growler de pet? Nem pensar. Ao contrário do alumínio e do vidro, o plástico é totalmente impermeável e permitem a entrada de gases no recipiente, que detona a oxidação. Fora que o plástico interage com o líquido e interfere em seu sabor. Colocou seu chope no growler de plástico? Beba logo!

Resumindo… Há alguns fatores que podem alterar sim o aroma ou o sabor da sua cerveja dependendo do recipiente e local armazenado. Mas, para sentir essa difereneça, vai depender da  sensibilidade do paladar de cada um sentir ou não essas alterações.

Para o meu paladar, as cervejas de garrafa são bem melhores, parecem mais frescas. Quanto às de lata, às vezes sinto o gosto metalizado, o que não me agrada.

E solto o #desafiocervejeirauai . Pegue uma lata e uma garrafa da mesma cerveja e faça um teste para ver se você sente a diferença. E digo mais, faça às cegas e depois me conte sua experiência.

Ah, mas uma coisa é certa. Independente se você for abrir uma lata ou garrafa, sempre que possível, despeje o líquido em um copo. Só assim você sentirá realmente os aromas e sabores proporcionados por cada estilo.

Cheers!

Como é produzida a cerveja artesanal?

Nos posts anteriores nós aprendemos sobre cada um dos principais ingredientes da cerveja e suas funções. Então, a gente se pergunta: É difícil produzir a própria cerveja?

É sim. Mas não é impossível.cerveja artesanal

Nesse post, eu não vou ensinar como faz. Mas vou fazer um resumo das principais etapas da produção de uma cerveja caseira para termos noção de como se faz uma cerveja artesanal.

Dá trabalho. Mas, o resultado final é sempre gratificante. Ver ali algo que você criou, cuidou por alguns dias ou meses e agora vai consumir a cerveja própria. Essa sensação é muito boa!

Antes de começar a produção, é preciso decidir qual estilo de cerveja será feito e com quais características. Tendo essas informações é preciso decidir quais ingredientes será usado, a quantidade de cada um e comprá-los para o preparo.

Mão na massa!

A produção de cerveja passa por duas fases: Quente e Fria. Vamos saber sobre essas fases:

 Quente

– Moagem: Antes de começar a fase quente, deve-se moer os grãos do malte. O grão é moído para que haja uma rápida extração e conversão dos componentes do malte. Depois de moído, obtém-se uma farinha grossa. E está pronto para começar o processo.

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– Mosturação: É quando entra a água e o malte. Aqui, a farinha obtida na moagem é misturada com a água. Não dá para fazer com a água que temos por causa do cloro. Pelo menos a de Minas é cheia dele. Por isso, deve-se corrigir o pH da água. Já falei também sobre a água aqui. Depois de corrigido o pH, o malte é inserido na água fervendo.  Durante essa fase, que dura entre duas a quatro horas, é necessário verificar rotineiramente do pH do mosto (como é chamado o líquido com a água e o malte). Além disso, é necessário controlar a temperatura do mosto também. Temperatura excessiva pode aumentar o teor alcoólico ou deixar a cerveja com sabor muito adocicado.

Com o cozimento dos grãos em água quente, haverá a conversão do amido contido no malte em açúcares fermentáveis (maltose) e não-fermentáveis.

– Filtragem: Aqui começa a lavar o mosto. A filtragem do mosto é realizada para retirar todos os componentes insolúveis presentes na mistura. Toda a casca dos grãos é retirado. O líquido “limpo” é passado para outro recipiente (panela).

lupulagem-ipa– Lupulagem: Aqui entra o lúpulo. Como expliquei no post sobre ele, o lúpulo é o ingrediente que vai dar amargor à cerveja para equilibrar com o doce do malte (sobre o malte) . Além disso, ele que dá o aroma gostoso na cerveja e tem a função de conservante natural da cerveja também.

Ele pode ser adicionado em vários momentos (tanto na fase quente quanto na fria). Mas, não vou entrar nesse detalhe, pois depende do estilo da cerveja e as características desejadas para a cerveja. Depois de colocado o lúpulo, deixa-se fervendo para que pegue o aroma e o sabor.

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– Decantação: O lúpulo vai deixar alguns resíduos na mistura. Para retirá-los, faz-se o  Whilrpool, que é o redemoinho no mosto após a fervura, com ele ainda quente. Esse redemoinho vai juntar todos os resíduos no centro da panela, de forma que o mosto não leve esse material para o  fermentador.

resfriamento

– Resfriamento: Para que a levedura faça seu trabalho, como falei no post sobre ela, a levedura, é necessário que o líquido esteja na temperatura de fermentação: Cada tipo de cerveja pede uma temperatura. São vários métodos para resfriar o mosto, que deve ser feito rapidamente para evitar contaminação.

 

FRIA

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– Fermentação: Depois de resfriado, o mosto deve ser passado para um balde fermentador, onde é colocada a levedura. Momento em que ela transforma o açúcar em álcool, compostos aromáticos e CO2. Depois, tampa-se o fermentador e o coloca-se na geladeira para fermentar e é necessário ficar medindo a densidade do mosto, para saber se a levedura acabou seu trabalho.

Sempre controlando a temperatura.

As cervejas Ales fermentam em temperaturas entre 17 e 24 graus, e cada fermento tem sua faixa de temperatura mais indicada. Já as cerveja da família Lagers são fermentada entre 6 e 12 graus.

O tempo de maturação vai variar de acordo com o estilo: pode ser uma semana, duas semanas, um mês, meses ou anos.

– Maturação e filtração: a cerveja é novamente filtrada para a retirada de resquícios da levedura e de outros componentes que possam ainda estar presentes, e em seguida é levemente aquecida novamente, para a eliminação de componentes voláteis, que não o álcool.

– Estabilização: após o novo aquecimento, a cerveja também é submetida um segundo resfriamento.

– Clarificação: depois de estabilizada, a cerveja é submetida a uma última filtração, para a eliminação de qualquer partícula restante em suspensão. Logo em seguida, é armazenada em tanques.

– Carbonatação – É quando coloca o gás (fase optativa): Depois de maturada, é colocado o gás na cerveja.

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– Envase: Aqui é a melhor parte. Quando seu “bebê” já está pronto para entrar na garrafa. Não pode esquecer de sanitizar com álcool tudo que entrará em contato com o líquido para não contaminá-lo.  Encheu a garrafa, tampou e acabou?

Não!

envase

Depois de tampada, a garrafa tem que ficar em temperatura ambiente, sem luz, por 7 dias.

Somente depois disso que as garrafas com o líquido podem ser colocadas na geladeira. E quando elas gelarem não precisa nem falar o que deve fazer, né?!

Tim tim!

É difícil, né?! E olha que eu não coloque muitos detalhes que devem ser observados, como a parte química. Apenas simplifiquei o processo para que você possa entender um pouco do processo.

É necessário estar atento a cada detalhe para não perder toda a produção. É difícil, mas depois que pega a prática, fica natural.

Faça um curso, estude bastante e comece com sua produção caseira. E depois me conte como estão indo as produções. 🙂

Eu fiz o curso de produção e confesso: Depois que fiz o curso, tive mais certeza de que beber é melhor. rs.

Mas acho legal demais acompanhar as brassagens coletivas que acontecem aqui em BH. É muito interessante ver uma cerveja nascendo. E bebê-la depois é mais legal ainda.