Cervejas trapistas: cervejas feitas por monges

Você sabia que existem cervejas feitas por monges?

Pois é. Essas, são as Cervejas Trapistas: produzidas e supervisionadas por monges da Ordem Trapista e fabricadas na própria Abadia/Mosteiro. Muitas das cervejarias possuem funcionários que não são monges, mas há sempre a supervisão de um monge dentro da cervejaria.

Os trapistas são monges que dedicam suas vidas à oração e ao trabalho, em uma vida comunitária.

Uma pequena parte do que os monges e freiras produzem em suas abadias é para uso próprio. A maior parte é destinada à venda. Os trapistas (monges) e trapistinos (freiras) usam os rendimentos para financiar as necessidades de suas comunidades religiosas. Qualquer coisa extra é dada a terceiros. Dessa forma, eles apoiam projetos em países em desenvolvimento e obras de caridade, enfim, oferecem ajuda a quem precisa.

E com a cerveja que eles fabricam e vendem não é diferente. Não pode ter fins lucrativos. Sim, eles também bebem!

Dos mais de 170 mosteiros trapistas existentes no mundo, somente treze são autorizados a marcar suas cervejas com o selo de autenticidade trapista, o Authentic Trappist Product (ATP), garantindo a origem monástica de sua produção.

Como um mosteiro recebe autorização para usar o selo?

Para poder usar o selo em um de seus produtos Trappist®, a abadia deve atender a estes três critérios rigorosos:

– Todos os produtos devem ser feitos nas imediações da abadia;
– A produção deve ser realizada sob a supervisão dos monges ou freiras;
– Os lucros devem ser destinados às necessidades da comunidade monástica, para fins de solidariedade dentro da Ordem Trapista, ou para projetos de desenvolvimento e obras de caridade. Ou seja, não pode ser um empreendimento lucrativo. A renda deve cobrir os custos de vida dos monges e o que sobrar deve ser doado.

Imagem ITA

Essa licença tem duração de cinco anos e pode ser renovada.

Uma observação importante é que todas as abadias trapistas têm o direito exclusivo de uso da marca Trappist®. Porém, o selo ATP só foi concedido para doze. Esse selo não só tem origem monástica, mas também garante que foi produzido de acordo com as rígidas diretrizes estabelecidas pelo Associação Trapista Internacional

Onde estão e quais são as Cervejas Trapistas autorizadas?

Todas estão na Europa. Veja como elas estão distribuídas:
– Cinco na Bélgica: Trappistes Rochefort (Cidade de Namur), Orval (Florenville), Westmalle (Westmalle), Westvleteren (Westvleteren) e Chimay (Hainaut);
– Dois na Holanda:  La Trappe (Tilburg) e Zundert (Zundert);
– Um na Áustria: Stift Engelszell (Engelhartszell an der Donau);
– Um na Itália: Tre Fontane (Roma);
– Um na Inglaterra: Mount St. Bernard Abbey (Tynt Meadow);
– Um na Espanha: Cardenã (Burgos);
– Um na França: Mont des Cats (Godewaersvelde).

Atualização de maio de 2022: Nos Estados Unidos, a St. Joseph’s Abbey (Spencer- Massachusetts), única Trapista fora da Europa, encerrou as atividades.

Atualização de 8/2/2023: Em 2023, a Achel foi vendida para o Tormans Group. Como deixou de ser feita por monges, a cervejaria perdeu o direito de usar o selo Trapista.

Uma observação interessante é que outros produtos também podem se qualificar para receber o selo como: pães, queijos, licores e artefatos religiosos.

Imagem: Philip Rowlands 

A mais antiga cervejaria trapista é a Trappistes Rochefort, produzida desde o ano de 1595, dentro da Abadia de Notre-Dame de Saint-Rémy, próxima a vila de Rochefort, na Bélgica. Suas cervejas são o ápice de aroma e sabor, sendo suas receitas secretas e a entrada de visitantes na fábrica não é permitida. Porém, é possível conhecer o mosteiro, experimentar e comprar cervejas locais e souvenirs.

Como surgiu essa ideia de dar um selo para as cervejas?

A partir da segunda metade do século XX, as cervejas trapistas ganharam fama e começaram a inspirar outros produtores mundo afora, que passaram a colocar em seus rótulos “Estilo Trapista”, mesmo não tendo nenhum vínculo com a Ordem Trapista.

Em 1998, oito mosteiros trapistas se uniram e fundaram a International Trappist Association (ITA) – Associação Trapista Internacional, para evitar que empresas comerciais não-trapistas abusassem do nome Trappist (trapista). Com isso, essa associação privada criou o logotipo “Authentic Trappist Product“, para identificar as cervejas que pertencem à associação.

Hoje, a ITA conta com dezenove abadias trapistas em todo o mundo.

Uma lei da Câmara Belga do Comércio decretou que: “Cerveja Trapista é somente aquela que é produzida por monges Cistercienses, e não uma cerveja no estilo Trapista, a qual deve ser denominada cerveja de Abadia”.

Cerveja de Abadia

Com isso, surgiu o conceito Cerveja de Abadia ou cerveja do tipo Abadia (Abbey Beer).

Elas devem carregar a tradição vinda dos mosteiros, mas podem ser produzidas tanto por mosteiros e abadias que não pertencem à Ordem Trapista, quanto por empresas sem ligação com uma determinada ordem religiosa, e nem precisam mencionar um mosteiro específico.

Ou seja, podem ser consideradas Cervejas de Abadia as que são:
– Produzida por um mosteiro/abadia não trapista; ou
– Produzida por uma cervejaria comercial sob um acordo com um mosteiro existente; ou
–  Leve no rótulo o nome de uma abadia extinta ou fictícia por um cervejeiro comercial; ou
– Tenha uma marca vagamente monástica, sem mencionar especificamente o mosteiro, por um cervejeiro comercial.

As mais conhecidas são: Maredsous, Leffe e St. Bernardus.

Atenção! Trapistas e de Abadia não são estilos de cerveja!

Os nomes funcionam mais como referência e uma denominação ligada à tradição cervejeira oriunda dos monastérios.

E tem mais: Toda Cerveja Trapista é de Abadia, mas, nem toda cerveja de Abadia é Trapista.

Os estilos fabricados mais comuns, tanto para Trapistas quanto de Abadia são: Dubbel, Tripel, Quadruppel, Blond Ale, Bock, Belgian Pale Ale, Strong Dark Ale, dentre outros.

São cervejas complexas, de muita personalidade e muitas delas têm um alto teor alcoólico. Eu amo!

Fonte: www-trappist-be