O lúpulo na cerveja

Já falamos da água, do malte e, agorlupuloa, é a vez dele: O Lúpulo. Ingrediente muito amado por muitos, pois ele é o responsável por conferir o amargor e o aroma (o perfume – floral, cítrico, picante…) de muitas cervejas.

O lúpulo é uma planta trepadeira que pertence à família das Canabidácea e gênero cannabis. Seu nome científico é Humulus Lupulus.

Seu uso varia de acordo com a cerveja fabricada. Ou seja, a quantidade de lúpulos que é inserida, o tipo de lúpulo usado e quando ele é colocado durante a fabricação, determina qual será o produto final.

Lúpulos no Brasil

plantacao de lupuloPor muitos anos, achava-se impossível ter plantação de lúpulo aqui no Brasil, devido a nossa posição geográfica. Por isso, o lúpulo era totalmente importado, a maioria dos EUA e Alemanha, países onde o verão são mais longo que no Brasil. Com isso, o lúpulo aproveita esse longo período para florescer antes do inverno chegar (eles precisam de luz). No Brasil, não se tem tantas horas de luz solar durante o desenvolvimento do lúpulo, o que o impede de crescer.

Porém, devido a novas técnicas e diferentes soluções, já é possível cultivar a planta no Brasil.

Para se ter uma ideia, nos EUA e Alemanha é possível obter 800g de cone seco por planta em uma safra. A média no Brasil, hoje, é de 200g/planta. Porém a Fazenda de Fartura (uma das pioneiras) já conseguiu 500g/planta durante uma safra (dados Aprolúpulos). Já existem fazendas que fornecem lúpulos 100% nacional, como a Brava Terra.

A longo prazo, espero que com os lúpulos nacionais sendo fornecido em maior escala, ajude a diminuir os preços das cervejas.

Veja aqui uma matéria que escrevi logo que se começou  a plantar lúpulos no Brasil.

Voltando ao lúpulo…

São vários os tipos de lúpulos, vindo de países diferentes como Reino Unido, Estados Unidos, Alemanha, Austrália, e com características diferentes para diferentes estilos de cerveja, como os com pouco aroma, aroma cítrico, aroma herbal, muito amargo, menos amargo, etc. Por isso, é preciso saber as característica de cada um para saber qual colocar em cada estilo de cerveja para que ela não saia do estilo determinado.

Funções do lúpulo

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Além da função de dar aroma e amargor à cerveja, o lúpulo tem outras atribuições. A principal dela é servir como um conservante natural da cerveja. Ele possui algumas substâncias que inibem a proliferação de bactérias na cerveja.  Com isso, ajuda a prolongar a vida da cerveja nas prateleiras, antes de ir para a geladeira. Além disso, o lúpulo é rico em substâncias antioxidantes, que atuam contra radicais livres. Como as cervejas especiais não usam produtos químicos, como já falei anteriormente, a planta é de suma importância para a cerveja e sua conservação.

Foi por isso que um estilo particular de cerveja surgiu, a India Pale Ale, famosa IPA. Contam historiadores que, na virada do século XVIII, um cervejeiro britânico teria produzido uma Pale Ale mais forte e aumentado sua carga de lúpulos para preservar a bebida durante a viagem de vários meses para a Índia. O lúpulo garantia que, durante toda a viagem, a bebida chegaria sem contaminação do líquido. No final da viagem, a cerveja acabava adquirindo grande intensidade de aroma e sabor de lúpulo. Perfeito para satisfazer a sede do pessoal britânico nos trópicos e se mantinha conservada.

E não para por aí, a estabilidade da espuma da cerveja depende de vários fatores e um deles é a presença dos compostos amargos do lúpulo.

Quando eles são inseridos durante a produção?

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Dry Hopping

Existem vários momentos para a adição do lúpulo. Isso vai depender de que tipo de cerveja você vai querer. Pode ser colocado antes da fervura, durante ou depois. Como este é um assunto técnico, não vou entrar em detalhes.

Obs: Em algumas cervejas vemos a seguinte descrição: Dry Hopping,  que é o processo onde há a adição de lúpulo na cerveja durante o período de fermentação, ou seja, na fase fria do processo, para adicionar aroma de lúpulo fresco ao produto final. Essa técnica deixa a cerveja super aromática! Quando bem feito, ao abrir a cerveja, sente aquela explosão de aromas lupulados. HUuMm.

Curiosidades

– A evidência mais aceita do primeiro campo de cultivo de lúpulo data de 736, no jardim de um prisioneiro de origem eslava, próximo a Gensenfeld, no distrito de Hallertau, região da atual Alemanha. Seu uso é bem antigo;

– O lúpulo foi introduzido nas cervejas da Inglaterra no início do século XVI, e, no caso dos Estados Unidos, tendo o cultivo começado em 1629, no estado de Virginia Ocidental onde, hoje, é o Distrito de Columbia e a cidade de Washington;

– Hoje, existem mais de 200 opções de lúpulo. Dentre as diversas possibilidades, podemos destacar notas florais, cítricas, herbais, frutadas, resinosas e picantes.

– Enquanto o malte dá uma característica doce à cerveja o single-malt-single-hop1lúpulo fornece um contraponto amargo à esse doce. Ou seja, ele é usado também para dar equilíbrio à cerveja. Enquanto o malte adoça, vem o lúpulo com seu amargor não permitindo que a cerveja fique enjoativa, doce;

– Nas cervejas comerciais, o lúpulo aparece quase que só para quebrar o doce maltado. Eles existem nelas, mas colocam tão pouco que são imperceptíveis;

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Pellets

– Para a produção cervejeira, o lúpulo é vendido tanto ao natural (em flores) quanto na forma de pellets (mais comum);

– O IBU: é a abreviatura para International Bitterness Unit. Em português, podemos chamar de algo como unidade internacional de amargor. É pelo número de IBU que podemos ter uma ideia de o quão amarga é uma cerveja. Quanto maior o número indicado, mais amarga é a cerveja;

– O lúpulo leva normalmente 3 anos para atingir a sua maturidade em campo;

– Você sabia que o lúpulo faz bem para saúde? Ele auxilia desde os problemas com insônia a tratamento de dermatite. Confira esses dois link sobre os benefícios do lúpulo para a saúde: Link 1     Link 2 ;

– Lúpulo em inglês é hop e em alemão é hopfen;

– Pode ser fatal para cães e gatos: O contato não é comum, mas, para quem produz cerveja em casa, vale a pena informar. O lúpulo jamais deve ser ingerido por seu cão ou gato, pois é altamente tóxico para eles, provocando ataque epilético, problemas no coração e pode até causar a morte.

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Outros ingredientes da cerveja

Agora que já falamos dos ingredientes obrigatórios de uma cerveja (água, malte, lúpulo e levedura), vamos falar dos ingredientes que não são obrigatórios mas que podem ser utilizados?

Em busca de cervejas com aromas, sabores e cores diferentes, visando proporcionar uma experiência única na degustação da cerveja, alguns cervejeiros utilizam outros ingredientes diversos durante a produção. São eles: especiarias, plantas, flores, frutas, e outros que a imaginação possa alcançar. Eles dão um toque especial às cervejas tradicionais.

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Condimentos e especiarias são temperos usados na culinária para acrescentar sabor, aroma, cor ou realçar o paladar de uma comida. É o mesmo objetivo deles na cerveja. Exemplo de especiarias usados na cerveja: Pimenta, canela, gengibre, coentro, dentre outros.

Além das especiarias, outros ingredientes também podem ser usados como:  chocolate, café, limão siciliano, capim-limão, camomila, castanha, casca de laranja, flor de hibisco, zimbro, mirtilo, frutas etc.

Não existe uma regra que define qual tempero vai bem com determinado tipo de cerveja. Apesar disso, tem algumas combinações que já se tornaram tradicionais como o estilo de cerveja de trigo belga a Witbier que leva casca de laranja e coentro. Aliás, os belgas são especialistas nisso: usar especiarias e inventar demais em suas cervejas! Contrário dos alemães, que não admitem a inserção de nenhum elemento que não sejam os ingredientes base. Já falei sobre eles aqui: Escola Belga e Escola Alemã.

Apesar de ser permitido o uso desses elementos na cerveja, as suas características devem apenas complementar o estilo escolhido, para se criar uma complexidade de sabores, aromas e sensações. Eles não devem se sobrepor ao estilo original da cerveja.

Vou citar aqui algumas cervejas que levam esses elementos a mais:

Witbier, cerveja de trigo com Coentro e Casca de Laranja: Hoeggareden, da Bélgica, a minha preferida!

Russian Imperial Stout, que leva Nibs de Cacau e Jack Daniel’s – da Cervejaria Capistrana, de Diamantina. Perfeita!

Dubbel com extrato de uva passas – da Wäls, de Belo Horizonte. Boa demais!

Saison com amêndoas, limão, abacaxi e café – 42 Farmhouose Ale da Wäls. É sensacional!

Porter com adição de café – Demoiselle, da Cervejaria Colorado, de Ribeirão Preto. Amo!

Trigo com adição de Mel de Flor de Laranjeira – Áppia da Cervejaria Colorado. Levinha e de boa!

Aliás, se você quer exemplo de cerveja + algum elemento diferente, todas as cervejas da Colorado têm adição de algum produto que remete ao Brasil. Como é o caso da Indica, que é uma IPA com rapadura.

American IPA com Maracujá – da Baden Baden, de Campos do Jordão. Achei leve para o estilo, mas é boa também!

IPA com mamão – a TakeuparIPA, da Go Horse de Belo Horizonte. Eu que não gosto de mamão gostei demais!

Falando adição de frutas, dentro desse tema podemos citar as Fruit Beer, que são cervejas feitas com frutas. Sua criação parte de um estilo base ao qual se acrescenta uma fruta.

Algumas frutas utilizadas são: cereja, framboesa, pêssego, maçã, laranja, amora, damasco, açaí etc.

Exemplo de Fruit Beer:

Belgian Fuit Beer com frutas vermelhas in natura – Julieta da Cervejaria Backer, de Belo Horizonte.

Berliner Weisse com goiaba e cajá-manga – Abaporu Sour, da Cervejaria Verace, de Nova Lima.

Catharina Sour com Acerola – Katarina Sour da Furst Bier, de Formiga-MG.

Enfim, as Fruit Beer podem ser uma Witbier, Stout, Sour, Red Ale ou praticamente qualquer outro estilo de cerveja que tenha a adição de frutas.


Como esses ingredientes são usados?

Para a produção cervejeira, pode ser usada a fruta fresca (inteira, em pedaços ou batida), em forma de extrato, de calda, de polpa e até de suco. No caso dos outros ingredientes podem ser flores inteiras ou desidratadas, ervas prensadas, in natura ou em pó.

Como esses ingredientes são inseridos durante a produção?

Eles podem ser colocados em diferentes etapas da fabricação da cerveja, como durante a fervura, fermentação ou maturação. Essa escolha vai de acordo com a característica final que se deseja obter.


Eu sou suspeita para falar sobre as cervejas que levam esses elementos “diferentes”, pois gosto muito dessas invenções cervejeiras. Sempre que vejo algo diferente, estou experimentando. Confesso que algumas degustações não foram bem-sucedidas, mas, outras gostei bastante.

Então é isso. Fiz esse post para mostrar para vocês que as cervejas podem, sim, sair do comum e ser espetacularmente gostosas, tanto quanto às tradicionais.

fruit beer

Curiosidades:

– O Guia de Estilo BJCP (Beer Judge Certification Program) acrescentou uma categoria dedicada às cervejas com condimentos, a Spice/Herb/Vegetable Beer. Essa categoria, além de incluir o estilo Christmas/Winter Specialty Spiced Beer, permite ao cervejeiro criar receitas inusitadas e com as mais variadas combinações de sabores.

– Quando você sente o aroma de banana na cerveja de trigo (Weissbier), pode ter certeza que não foi adicionada banana durante a produção. Esse aroma é química pura. Ao mesmo tempo em que trabalham dia e noite para transformar açúcares em álcool e gás carbônico, as leveduras próprias das cervejas de trigo também produzem ésteres com aromas frutados. Esses aromas nos remetem à banana. Aiaiai, não vão falar que as Weiss são Fruit Beer com banana e cravo. 🙂 rs