Hoje, falarei da mais recente escola cervejeira: a americana. Mesmo não sendo considerada uma escola pelos tradicionalistas, ela merece destaque pelo novo jeito de pensar a cerveja.
A coragem de criar fazem dos americanos excelentes criadores. Foi assim que surgiu a escola americana, incorporando todas as três escolas cervejeiras em uma completamente nova. Ou seja, eles inovaram os estilos já conhecidos mundialmente e criaram o estilo próprio.
Um pouco de história
A cerveja já estava na América do Norte muito antes daquela terra ser colonizada. Até o século XVI, quando o continente americano estava sendo colonizado pelos europeus, as tribos nativas da América do Norte já produziam uma bebida fermentada com ingredientes nativos, principalmente utilizando milho. Com a chegada de imigrantes alemães e ingleses, levaram junto suas culturas cervejeiras.
O Reino Unido veio a estabelecer o embrião do que viria a ser os Estados Unidos com suas 13 colônias. A partir deste momento, a influência da cultura cervejeira britânica se espalhou pela colônia, com várias novas cervejarias acompanhando sua expansão territorial e posterior transformação em um país independente.
Patrick Henry, Thomas Jefferson, Samuel Adams e James Madison promoveram vigorosamente a indústria cervejeira nas colônias. George Washington operava uma pequena cervejaria em Mount Vernon. E durante a Guerra Revolucionária, ele garantiu que suas tropas recebessem um litro de cerveja por dia. (Bibliografia: Beer Institute – Beer & American History).
Mas, nem tudo são flores. Desde sempre, a cerveja nos Estados Unidos enfrenta obstáculos.
Em 1770, a indústria cervejeira americana estava tão bem estabelecida que George Washington, Patrick Henry e outros patriotas defenderam um boicote às importações de cerveja inglesa. O Boston Tea Party quase se tornou o Boston Beer Party.
Em 1920, buscando efetivar medidas contra o abuso do álcool, foi estabelecida a Lei Seca (“Prohibition”) que perdurou até o ano de 1933, que proibia a fabricação, transporte e venda de bebida alcóolica em todo território Americano. Nesse período, os EUA tinham algo em torno de 4.000 micro-cervejarias (Somente no ano de 2015 é que os EUA alcançaram novamente as 4 mil cervejarias) . Muitas cervejarias, principalmente as pequenas, fecharam as portas, e outras tiveram que se adaptar e fabricar outras bebidas que não fossem alcoólicas, como cerveja sem álcool, sucos e refrigerantes. Além disso, milhares de litros de cerveja foram confiscados e jogados fora.
Houve aumento da corrupção, da criminalidade e o enriquecimento das máfias que passaram a dominar o contrabando de bebidas alcoólicas, principalmente liderados por Al Capone, e surgiram diversos bares clandestinos que ficavam localizados nos subterrâneos das cidades americanas.
Esta lei durou por 13 anos. Assim que retiraram a lei, as cervejarias começaram a ressurgir. Porém, nessa época, quando a lei acabou, as pequenas cervejarias que conseguiram sobreviver se viram em desvantagens com grandes cervejarias, como a Budweiser e a Pabst, que cresceram muito em pouco tempo, passando a se tornarem gigantes do mercado. (Biliografia: Economic History Association – A Concise History of America’s Brewing Industry)
Naquela época, os EUA viviam em recessão econômica, por isso a indústria cervejeira sofreu uma transformação e se viu obrigada a produzir cerveja com o menor custo possível, e passaram a usar matérias primas mais baratas, como o arroz e o milho e diminuíram o lúpulo. O resultado foi uma cerveja mais pálida e com pouco aroma, que é o caso das Standard American Lager e Light Lager, que é muito conhecida por nós. As cervejas de massa hoje. As grandes cervejarias dominavam o mercado com apenas esses estilo de cerveja.
Nos anos 60, grupos de cervejeiros caseiros começaram um movimento, o “Craft Brewing” (fabricação caseira) que se espalhou pelo país inteiro, indo no caminho contrário das grandes cervejarias que fabricavam apenas um único estilo. A prática da produção de cerveja em casa, proibida desde a Lei Seca, foi liberada novamente, em 1979, e os cervejeiros passaram a diversificar os estilos.
Assim, foi o início da Revolução das Cervejas Artesanais que trouxe os EUA de volta ao seu lugar entre as grandes nações cervejeiras. E algumas das características desta revolução, como o uso de insumos locais e o desejo constante dos norte-americanos de fazer tudo sempre maior, mais extremo e mais inovador do que já existe, deram origem a novos estilos de cerveja e trouxeram à tona práticas tradicionais pouco difundidas até então.
Em 2020, os EUA atingiu o recorde histórico com 8.764 cervejarias artesanais, sendo 1.854 microcervejarias, 3.219 brewpubs, 3.471 taproons e 220 cervejarias artesanais regionais. (Dados divulgados pela Brewers Association – BA, que representa as cervejarias artesanais nos Estados Unidos)
Características principais da Escola Americana
Os americanos são conhecidos por gostar de tudo exagerado e não seria diferente com as cervejas. As principais características dessa escola é o exagero e a inovação. A Escola Americana faz uma releitura de estilos clássicos existentes, ou seja, refazem estilos de cervejas das outras escolas de forma criativa, inovadora e exagerada.
Pelo lado inovador, eles não têm medo de ousar incluindo ingredientes diferentes em suas cervejas como abóbora e bacon. Já o lado exagerado, se refere ao exagero no uso dos ingredientes, como o uso de muito malte ou de muito lúpulo, resultando em cervejas mais amargas, mais alcoólicas, mais encorpadas e mais robustas. Mas, quem predomina, na maioria das vezes, é o lúpulo, conferindo uma cerveja bem cítrica, característica dos lúpulos americanos.
Um exemplo dessa inovação e exagero foi a reinvenção da IPA (original da Escola Britânica) criando a American IPA, que é uma IPA com mais lúpulo, mais amargas, e a Imperial IPA ou Double IPA, uma IPA ainda mais alcoólicas, com muito mais malte, muito mais amargas, e claro, mais aromáticas que a IPA clássica.
Então, se você curte cervejas encorpada com amargor exagerado, aposte nas cervejas que seguem a linha americana.
Uma observação é que há uma certa resistência entre pessoas do meio cervejeiros em reconhecer essa escola.
Principais estilos dessa escola são: American Lager, Cream Ale, American Pale Ale, American IPA, Pumpkin Ale, American Porter, American Brown Ale, Session IPA, American Barleywine e Double IPA.
Aqui, apresento alguns estilos da Escola Americana:
American IPA: A diferença dela para a IPA inglesa está entre os lúpulos usados. Com o uso dos lúpulos americanos, a antiga APA, hoje American IPA, carrega aromas muito mais cítricos que a inglesa. Outra diferença importante é que a American possui um certo dulçor, enquanto a IPA inglesa é conhecida por possuir um final bem seco.
Imperial IPA ou Double IPA: é uma versão “forte” das tradicionais IPAs. Mais intensas, com alto teor alcoólico e amargor.
California Common: são cervejas mais leves e fácil de beber, de cor âmbar, corpo médio e sabor equilibrado entre malte e lúpulo, com notas carameladas e tostadas.
Black IPA (IPA com Stout/Porter): mantém o amargor e aromas de lúpulo das IPAs, porém contam com maltes tostados na receita, tornando-as mais escuras e podendo adicionar aromas remetendo a café e chocolate amargo.
Cream Ale: A partir de uma cerveja American IPA, foram acrescentadas leveduras Lager e adjuntos como milho e arroz. Assim surgiu uma cerveja equilibrada, sem predomínio do malte ou do lúpulo no sabor, com uma cor clara e boa carbonatação de uma característica cremosa.
Wheat Wine: inspirado nas Barleywine mas que se diferenciam por um alto uso de trigo na receita. A quantidade de trigo usado na receita pode superar os 50% dos grãos usados.
Hop Weizen: Uma variação de cerveja de trigo com uma carga maior de lúpulo tanto no aroma quanto no amargor. Podemos falar que é uma IPA de trigo.
Dica Mineira de cervejas que seguem estilos da Escola Americana:
American Lager da Fathach (Pilsen)
American Pale Ale da Slod
American Brown Ale da Albanos
American IPA da Läut (Surf Laut)
Imperial IPA da Vinil (Hurricane)
Session IPA da Lagoon
Enfim, chegamos ao fim dos posts sobre escolas cervejeiras. Espero que tenham gostado! Até o próximo tema.
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